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MERDA EXISTE

  • Foto do escritor: Daniel Frazão
    Daniel Frazão
  • 9 de jun.
  • 4 min de leitura

O mundo está afundado em merda. Às vezes, a merda é fedorenta. Às vezes, ela se faz de

perfumada. No fim, merda é merda. E o mundo, que deveria ser mundo, é imundo. Um grande

cagalhão povoado.

Neste instante, sinto o cheiro da merda. Um cheiro podre, acre, que finge ser música.

Ele sobe fumegante pelo ar de fim de tarde. A merda é música para os ouvidos de milhões de

pessoas. Bilhões de pessoas. É a música (música?) que vem lá de fora e passa através da

minha janela fechada. Lá embaixo, um punhado de vizinhos e convidados faz uma espécie de

churrasco, congregação, quermesse, exorcismo ou coisa que o valha. Um ser humano tem

dezenas de gostos. É perfeitamente natural que entre esses gostos haja coisas boas e coisas

ruins. O segredo é manter a pontuação pendendo para o lado das coisas boas. Ou não. Há

coisas ruins que são boas. O segredo é ter uma pontuação de coisas boas e de coisas ruins que

são boas para você. Uma pontuação só de coisas ruins que são boas também é válida, na

minha opinião. Sem problemas. Mas fique longe das coisas ruins que são MERDA. E não falo de

merda como gíria, no sentido de “coisa ruim”, hehe, falo no sentido literal. Merda como a

massa marrom de dejetos que sai do seu cu quando você senta na privada. É dessa merda que

falo. Caramba, já estou me afastando da questão. De volta ao assunto... O que quero dizer é

que aquelas pessoas lá embaixo conseguem a incrível façanha de ter uma pontuação

constituída inteiramente de MERDA. Inteiramente. Não salva nada. Tudo que escutam, tudo

que falam, tudo que leem, tudo que veem, tudo que pensam, poderia sair do cu. É cocô. Fede.

Neste instante, sou obrigado a escutar um funk grotescamente fodido depois de uma seleção

caprichada de funks grotescamente fodidos. Mas... espere aí. O funk acabou. Começou outro.

Esse também é grotescamente fodido. Antes disso, colocaram uma soundtrack também saída

do reto do Capeta (fisgaram da Som Livre; claro que precisam da Som Livre para encher a

prateleira de CDs): sertanejo. Hoje em dia, o pessoal do sertanejo é a bola da vez. É moda.

Merda é moda. Moda é merda. Mas pra mim, como já disse, é só merda. E trato merda como

ela deve ser tratada: ESTOU CAGANDO PRA ELA. Estou cagando pra Som Livre. Estou cagando

pra Luan Santana. Estou cagando pra Michel Teló. Estou cagando pra Exaltasamba. Esse último

é da galera do pagode, que também foi outra soundtrack da galera lá da rua.

Uma vez eu disse que todo crítico é um ditadorzinho em potencial, pois, no fundo,

quer apenas impor o gosto dele sobre todos os outros. Intransigência, pura e simplesmente.

Continuo achando isso. Também continuo com um forte traço de crítica no olhar. Como faço,

então? Seguro a onda. Deixo a crítica para mim e para meus textos. Não vou lá embaixo

papagaiar que fulano ou beltrano NÃO PODE gostar disso ou daquilo, não proponho nenhum

projeto de lei que proíba essa ou aquela música (afinal, quando começamos com isso, não tem

mais volta; depois, o que mais seria proibido?). Mas... sorry, folks, continuo achando isso tudo

merda. Sempre achei e sempre acharei. E não acredito em merda. Não a cultuo. Bem, também

fico puto porque pessoas que gostam de merda gostam de ostentá-la. Quem gosta de merda,

gosta de cagar. Os caras lá na rua, por exemplo. Podiam fazer essa defecação musical num

volume mais baixo. Tá certo, ta certo... Se você compra um aparelho de som e ele tem o

botãozinho do volume, pode colocar aquele botãozinho (que também é seu) no grau que bem

entender, desde que esteja numa hora permitida. Mas que faça isso dentro da sua casa, e não

no quintal, despejando esses cagalhões no ouvido de todo mundo. Tudo bem que a maioria


das pessoas tem merda saindo pela boca, pelos ouvidos, pelo nariz, pelos olhos, pelos órgãos

genitais e pelo cérebro e, consequentemente, gosta de ter merda entrando pela boca, pelos

ouvidos, pelo nariz, pelos olhos, pelos órgãos genitais e pelo cérebro, mas ainda existem

alguns otários como eu por aí, que não curtem coprofagia.

O problema não é a música. A música é só um reflexo. Merda musical existe porque

merda existe. E merda é todo o resto. Isso mesmo, coleguinha. Eu não falo só de funk, de

sertanejo, de pagode, de Som Livre ou de música. Isso é só a ponta do cagalhão. Ops... do

iceberg. A merda é cafona. A merda é refinada. A merda é saudosista. A merda é moderninha.

A merda aceita tudo. A merda critica tudo. A merda não escreve. A merda escreve. A merda

assiste televisão. A merda trabalha na televisão. A merda é homem. A merda é mulher. A

merda acredita em Deus. A merda não acredita, não. Merda nacional, merda importada,

merda caretinha, merda drogadinha, merda porca, merda anticéptica... Até mesmo merda

falando mal de merda.

Confesso que queria entrar em outras coisas, não só na música, mas aquele festim

diabólico lá embaixo realmente se impôs. Eles venceram. E você deve ter concordado comigo,

em vez de ficar puto, coisa que poderia acontecer se eu me estendesse no meu conceito

escatológico. Há um lado meu (o ombro do diabinho, se quiser) que gostaria de te ver puto.

Mas tudo bem. Tê-lo no meu time também é legal. Você pode ficar puto na próxima vez. Desta

vez, acabei me restringindo à galera lá da rua e aos gostos da galera lá da rua. Neste

ventilador, a merda não alçou um voo tão longo assim.

Bem, coleguinha, é isso aí. Acho que acabamos. Merda é merda. Chame isso de

fezestencialismo, se quiser. Eu prefiro não chamar de coisa alguma.


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